Faltavam apenas 15 minutos para o fecho do Jüdischer Friedhof (um antigo cemitério judeu em Berlim) e eu seguia de passo acelerado pela grande avenida Schönhauser Alle, embora soubesse que muito provavelmente iria bater com o nariz na porta. Mas lembro-me de ter pensado que não podia desistir, até porque senti que algo me esperava naquele caminho. Foi a meio da avenida, num inesperado relvado delimitado por uma cerca baixa, que vi a Miki a ler encostada à única árvore que existia naquele pedaço de terreno algo abandonado. Pulei a cerca, aproximei-me e a sua reação ao meu pedido não poderia ter sido melhor.
A Miki, que é de Brooklyn, Nova Iorque, tinha acabado de chegar a Berlim para passar uma semana com uma amiga, com quem tinha ficado de se encontrar num café, no outro lado da avenida. Mas tinha ainda pela frente cerca de três horas de espera e achou que seria mais agradável passar esse tempo a ler ao ar livre. O romance que tinha consigo era uma edição inglesa de "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski, um livro que a Miki queria ter lido há algum tempo, antes mesmo de ter visitado S. Petersburgo. Mas quis o destino que só tivesse conseguido comprar o romance precisamente naquela cidade.
Depois deste encontro segui caminho em direção ao cemitério, mas quando lá cheguei o portão só se abriu para deixar sair os últimos visitantes. Voltei para trás sorridente porque a subida da avenida não tinha sido em vão. Conheci a Miki, fiz uma boa foto e a visita ao cemitério, na manhã seguinte, permitiu-me desfrutar de uma luz que na tarde anterior teria sido impossível. Já estava escrito.
2 comentários:
Adorei o post!
Estamos sempre a tempo de ler os clássicos.
também adorei o post. Ando a ganhar coragem para começar a ler o "Crime e Castigo".
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