terça-feira, 26 de março de 2013

Maria & Oscar Wilde, no 798


Há em Pequim uma espécie de Lx Factory gigantesca. Comparada a Greenwich Village ou ao SoHo, em Nova Iorque, o Bairro das Artes 798 (também conhecido por 798 Art Zone ou 798 Art District) instalou-se numa área da capital chinesa onde, na década de 50 dos século passado, funcionou um complexo industrial para fabrico de armamento. Esse complexo foi originalmente erguido com a colaboração da antiga Alemanha de Leste a cargo da qual ficaram os projetos de arquitetura, daí a maior parte dos edifícios ter claras influências do estilo Bauhaus. 798 era o número de uma das unidades de produção desta enorme estrutura fabril, que começou a entrar em decadência no início dos anos 90 com as reformas políticas levadas a cabo por Deng Xiaoping. Por essa altura, a crescente comunidade artística de Pequim procurava um local para instalar-se, e os inúmeros edifícios que ficaram desocupados revelaram-se adequados para albergá-los, assim como às obras que estavam dispostos a criar. Hoje em dia funcionam neste complexo, que ocupa muitos milhares de metros quadrados, inúmeras galerias de arte, oficinas, gabinetes de design e arquitetura, ateliers de estilistas, editoras, livrarias (uma das quais, propriedade da neta de Mao Tse Tung), lojas de decoração, cafés, restaurantes e clubes noturnos. O Bairro das Artes 798 é, em suma, o local mais em voga de Pequim, o spot preferido pela emergente comunidade "Bo-Bo" (bourgeois-bohemian) da capital, e tem como anfitrião mais conhecido o polémico artista plástico Ai Weiwei. Eu tive a sorte de poder lá passar uma tarde inteira!

A pausa para o almoço fez-se num restaurante de estilo europeu com menu italiano. A decoração, muito trendy, era simples, despojada. Predominavam os tijolos vermelhos do edifício antigo, o aço escovado, a cozinha aberta para a sala de refeições e o branco de algumas paredes decoradas com cartazes de exposições e eventos. As grandes janelas permitiam a entrada de luz natural. Em cima da mesa, os individuais em papel exibiam fotografias de clientes ilustres. Entre eles, descortino Durão Barroso, identificado na legenda como Presidente da Comissão Europeia. O ambiente é distinto e jovem. Predominam os clientes ocidentais.

Atrás de mim sentou-se, sozinha, a Maria, uma russa que vive e trabalha em Pequim. Lia enquanto aguardava pela salada que pedira. O livro era uma edição russa dos "Contos de Oscar Wilde". Disse-me a Maria que já os tinha lido quando era criança, mas que quis recordar o fundamento moral das histórias que não entendeu plenamente na altura por ser demasiado nova.

1 comentário:

Ricardo Porto disse...

que russa tão gira e elegante, e ainda por cima gosta de oscar wilde.
grouchomarx