Quando me sentei ao seu lado, num dos terminais do Shanghai Pudong International Airport, a folhear com toda a naturalidade a edição de fevereiro da Time Out Shanghai, escrita de fio a pavio em Mandarim, o Quansheng não se conteve e perguntou-me com muita delicadeza, em inglês: "Desculpe, consegue ler tudo o que aí está?". Soltei uma gargalhada, e respondi-lhe, divertida, que não, que tinha comprado a revista porque achara a capa magnífica e porque era uma recordação que levava da cidade. Depois, foi a minha vez de lhe perguntar onde tinha aprendido a falar tão bem inglês, ao que me respondeu que tinha estudado na Nova Zelândia. Foi então que lhe confidenciei estar surpreendida com o facto do inglês ser razoavelmente dominado pela maioria das pessoas com quem tinha contactado até então, o que contrariava a ideia que se tem a ocidente de que a comunicação com os chineses é difícil. Ainda assim, minutos antes, tinha abordado uma jovem que lia numa sala de embarque e que não percebeu uma palavra do que lhe disse. Não pude, por isso, fazer a foto...
Daí a uns instantes, movida por um desejo repentino, levantei-me para ir até uma loja comprar chocolates e no regresso ao meu lugar deparei-me com o Quansheng a ler. Agradeci à vida, que teima em fazer-me as vontades, e fiz a fotografia. O livro era uma edição chinesa de "Nagasáqui", um romance do francês Eric Faye que tem lugar naquela cidade japonesa e que reflete sobre o individualismo e a solidão.
De Shanghai, o Quansheng partiu para a sua terra natal, numa provincia chinesa distante. Eu e a N. rumámos para Macau.
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