Gosto de bibliotecas. Da biblioteca dos meus pais, que me formou; da minha modesta biblioteca, lentamente construída; das bibliotecas que vejo em certas casas de revista, que ocupam todas as paredes de uma divisão, com estantes do chão ao teto; da Biblioteca Nacional, em Lisboa, cujo cheiro é impossível esquecer e de tantas outras, públicas ou privadas, por onde fui passando. Quando olho para as minhas estantes sinto o conforto das boas recordações. Ali está gente com quem aprendi muito. E quando estou perante uma grande biblioteca, daquelas com milhares de livros, a quase infinita possibilidade de escolha perturba-me. Se pudesse ler tudo o que me apetecesse, suspeito que jamais saberia por onde começar.
As bibliotecas que frequentei muitas vezes quando era estudante — nomeadamente, a velhinha Biblioteca Municipal de Portimão, que funcionava no decrépito edifício do antigo tribunal — já nada têm a ver com as modernas estruturas de hoje. Onde antes havia livros trancados em estantes inacessíveis e salas de leitura inóspitas, há hoje edifícios modernos, concebidos de raiz para cumprirem esta maravilhosa função de albergar livros e convidar todos a entrar e por lá se demorarem. Disse-me no outro dia a bibliotecária mais entusiasta que alguma vez conheci, que as bibliotecas municipais foram, em Portugal, uma das maiores conquistas do pós-25 de abril. Também elas protagonizaram, à sua maneira silenciosa, uma revolução e deram um contributo fundamental para a consolidação da nossa democracia.
No interior destes edifícios — quais cidades dentro das cidades — cruza-se gente de todas as condições sociais, de todas as idades, com os mais variados interesses e motivações, de diferentes raças ou credos. Ali impera a liberdade de chegar, vaguear por entre as estantes, espreitar as lombadas, pegar num livro qualquer e sentar-se confortavelmente para ler o tempo que se quiser, num espaço pensado para tal ao mais ínfimo pormenor, sem ter de prestar contas a ninguém. Um luxo tremendo! Um luxo que não valorizamos o suficiente e que os tempos de austeridade cega que vivemos ameaçam seriamente...
Por todas estas razões, acalentava há já algum tempo retratar leitores dentro de um destes espaços e a belíssima Biblioteca Municipal Almeida Garrett (BMAG), no Porto, era onde mais desejava fotografar. Tive o privilégio de me ser concedida a autorização solicitada e estou em condições de começar a partilhar convosco o resultado do trabalho que tenho vindo a desenvolver naquele espaço. O meu muito obrigada aos responsáveis pela biblioteca e aos leitores que tenho interrompido.
O primeiro leitor que fotografei foi o Manuel e, modéstia à parte, acho que não poderia ter começado melhor: a fotografia está muito bonita. Este senhor de porte distinto é um frequentador assíduo da BMAG, assim como da outra biblioteca municipal do Porto, a de S. Lázaro. Nutre um gosto muito especial pelos livros e aprecia em particular o sossego que lhe proporcionam. Quando o conheci tinha sobre a mesa o índice geral d' "O Tripeiro" — revista fundada em 1908 — assim como um volume onde estavam arquivados os números editados em 1969. O Manuel considera o trabalho desta publicação muito válido e formidável a consulta que permite.
2 comentários:
linda
De facto as bibliotecas são lindas. Os livros são fantásticos pois são o nosso melhor amigo. Trabalhar numa biblioteca já não é tão cultural. Os leitores e funcionários perdem-se em questiúnculas ridículas...é o estado a que chegou a cultura. Se estou a mentir, estejam atentos e ABRAM OS OLHOS E AS ORELHAS.
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