segunda-feira, 5 de março de 2012

Correntes d'Escritas 2012


Há cinco anos que vou às Correntes d'Escritas, uma belíssima festa literária que reúne, num ambiente descontraído e informal, escritores de língua portuguesa e espanhola, editores, jornalistas, estudantes e todos os leitores que se lhe quiserem juntar. No primeiro dia do evento, no intervalo entre a conferência de abertura e a primeira mesa, percorri a plateia com o olhar para tomar o pulso ao público. Foi então que vi o Joaquim a ler mesmo atrás de mim. Quem já foi às Correntes sabe que uma das suas grandes virtudes é precisamente a facilidade com que perfeitos estranhos se envolvem em longas conversas sobre escritores, livros e leituras. Foi, portanto, sem surpresa que a conversa fluiu, mas foi com espanto que ouvi o que este leitor tinha para partilhar. 

O Joaquim comprou o seu primeiro livro, com o seu próprio dinheiro, quando tinha catorze anos: um volume com os sonetos da Florbela Espanca. Seguiu-se "Manhã Submersa", de Vergílio Ferreira e nunca mais parou de comprar livros. Cliente assíduo de alfarrabistas, lê 4 a 5 livros por mês. E lê de tudo, às vezes sem grande critério nas escolhas que faz, o que lhe tem permitido descobrir excelentes autores, mas também o força a deixar alguns livros a meio. Ao fim de todos estes anos acumulou 4500 volumes, que guarda numa casa que serve apenas para esse efeito. Leram "A Casa de Papel"? Foi desse pequeno romance que me lembrei, onde um tal de Delgado vivia numa casa forrada de livros ("livros na casa de banho, livros no quarto de serviço, na cozinha, nos quartos do fundo") e um outro personagem chamado Carlos construiu uma casa junto ao mar usando os seus livros como tijolos. 

Passou depressa o intervalo daquela tarde. Os participantes na primeira mesa já tinham tomado os seus lugares no palco e eu tive e regressar ao meu na plateia antes que o perdesse. Para a posteridade ficou a fotografia que tirei ao Joaquim, abraçado ao livro que lia: "Riacho Doce", de José Lins do Rego. Adquirida num alfarrabista, esta edição da Livros do Brasil estava assinada e datada pelo punho da senhora que o comprou em 1965, precisamente o ano em que o Joaquim nasceu. 

1 comentário:

Mi Müller disse...

Olá Sandra!!!
Mas que encontro precioso. A história de Joaquim e sua edição de "Riacho Doce", José Lins do Rego é linda, esses detalhes me encantam, assim como o Acordo Fotográfico cada dia mais me emociona.
até mais,