sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Hoje é Dia das Livrarias


Hoje assinala-se pela primeira vez em Portugal o Dia das Livrarias. A iniciativa, que teve origem em Espanha, é "importada" pela Fundação José Saramago, conta com o apoio do movimento Encontro-Livreiro e coincide, curiosamente, com a data da morte de Fernando Pessoa.

A Livraria Vieira existe desde 1984, mas eu só a descobri há poucas semanas, quando andava a vaguear pelos arredores da Praça Carlos Alberto, ali na baixa do Porto. Passei pela porta estreita, vi livros no interior e entrei por impulso. O Sr. Vieira, que estava atrás do balcão, perguntou-me se me podia ajudar, ao que eu respondi que estava apenas a ver. A verdade é que não me demorei mais de dois minutos, mas aquele espaço pequeno e aconchegante forrado de livros não me saiu da cabeça. Ontem de manhã, quando o Luís Guerra, das livrarias Assírio & Alvim, me falou do Dia das Livrarias e me incitou a divulgá-lo no Acordo Fotográfico, soube de imediato que era à Livraria Vieira que tinha de voltar. Desta vez quem me atendeu foi a D. Fernanda, mas o Sr. Vieira, que estava a almoçar, não tardou a juntar-se-nos, e foi com extrema simpatia que ambos me receberam, aceitaram falar sobre a sua livraria e deixaram que a fotografasse. 

Nos idos anos 70 a D. Fernanda estava empregada numa conhecida livraria do Porto, quando havia trabalho e os livros se vendiam muito bem. Já então, apaixonada pela profissão de livreira, acalentava vir a ter o seu "cantinho", a sua livraria, sonho que acabou por concretizar. Nesses anos de bonança o negócio cresceu, o Sr. Vieira, seu marido, acabou por ir trabalhar com ela e foi com os rendimentos da livraria que educaram os dois filhos: a menina tornou-se bióloga e o menino escritor. 

Porém, os tempos mudaram drasticamente. Num esforço para manter as portas abertas, a Livraria Vieira mudou a lógica do negócio do livro novo para o usado, mas as vendas mantêm-se difíceis. Disse-me a D. Fernanda que nunca imaginou chegar à fase da vida em que se encontra e ser forçada a trabalhar ainda mais, mas afirma com muita emoção que não quer acabar com o seu "cantinho" que criou com tanto amor e carinho. E apesar desta mágoa, desta tristeza, foi com alegria, com orgulho até, que afirmou que a profissão de livreira "é a profissão mais linda que pode haver", que foi graças à sua livraria que ambos conheceram "as pessoas mais bonitas, gente séria, culta" e que todos os dias aprendem algo com os clientes.

Sabor amargo e doce, foi o que trouxe da Livraria Vieira. Amargo porque estes espaços únicos, tão cheios de caráter e de sentimento, estão em vias de extinção e nada os poderá substituir: nenhuma rede de livrarias de nome mais ou menos estrangeiro, nem nenhum espaço trendy com projeto de decoração assinado. E doce porque a dedicação, a generosidade, e a candura da D. Fernanda e do Sr. Vieira me comoveram. Se me dissessem que o Dia das Livrarias foi criado por causa deles eu acreditava.

3 comentários:

Vespinha disse...

Não sabia que era dia do livreiro, eu que trabalho numa editora. :( Mas obrigada por partilhares!

Adorei a fotografia, sobretudo do sr. Vieira, com o seu olhar triste mas com um bigode cómico.

A. F. disse...

Olá Vespinha! Acabo de corrigir o post porque não é Dia do Livreiro, mas sim Dia da Livraria. Fiquei contente por teres gostado da foto. A D. Fernanda não está focada, mas também acho que está uma foto bonita. Mais logo coloco mais imagens da livraria no Facebook.

Anónimo disse...

Eu tambem aprendi muito e cresci nesta Livraria. Sou a menina que me tornei biologa. Obrigada pelas palavras que dirigem aos meus pais. São verdadeiras e bem merecidas, porque são pessoas maravilhosas e são o exemplo que tento seguir todos os dias...