domingo, 27 de outubro de 2013

Ler: labor e lazer
To read: work and leisure


Para a Andrea, que é coordenadora editorial há 11 anos, o livro e a leitura são do mais democrático que há. "Há livros sobre tudo, de todos os géneros, de todos os formatos e tamanhos, enfim, há livros para todos os gostos", afirma. Para si, ler é um ato que define a sua identidade enquanto profissional, mas é também uma forma de viajar e uma fonte de prazer. Embora tenha de ler para trabalhar, diz conseguir separar as águas entre labor e lazer.

Fotografei-a no jardim do Palacete Silva Monteiro, no centro do Porto, onde funciona a Casa do Vinho Verde. Por estar em frente ao local onde trabalho e por proporcionar alguma tranquilidade, a par de uma vista magnífica sobre o Douro, não é raro encontrar colegas a ler neste jardim à hora do almoço, desde que o tempo assim o permita. Naquele início de tarde a Andrea ia mais ou menos a meio d' "A Rainha no Palácio das Correntes de Ar", o terceiro e último volume da saga Millennium, de Stieg Larsson. Tinha conseguido ler os dois outros tomos durante as férias, apesar de todos os cuidados que o seu bebé de 17 meses exige, o mesmo bebé que fez questão de deixar a sua marca no livro que teimava em roubar a atenção da mãe — a página 265 estava composta com fita adesiva e continha a seguinte nota: "Rasgado por Zé Maria a 31 de agosto de 2013". A Andrea não é leitora de thrillers, mas rendeu-se ao trabalho de Stieg Larsson, que a surpreendeu. Considerou os textos muito bem compostos, os personagens bem construídos e achou interessante a história ter por base uma investigação jornalística que desconstrói a ideia de que a Suécia é um país perfeito, imune à corrupção. 

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To Andrea, who is an editorial coordinator for 11 years now, books and the act of reading are the most democratic thing: "There are books about everything, of all kinds, shapes and sizes, there are books for everyone", she claims. To her, reading is an act that defines her identity as a professional, but it is also a source of pleasure. Although she has to read for professional reasons, she says she can break the waters between work and pleasure.

I took her picture at the garden of Silva Monteiro mansion, in the center of Porto, where are the headquarters of the portuguese Green Wine Institute. Because this place is just in front of the offices where I work and because it provides some tranquility, as well as magnificent view over the Douro, it is common to find coworkers reading at this garden during lunchtime, as long as the weather allows it. In that early afternoon Andrea was more or less in the middle of “The Girl Who Kicked the Hornets' Nest” the third and last volume of the Millennium saga, by Stieg Larsson. She had managed to read the two other books during the holidays, is spite of all the attention her 17 months baby demands, the same baby that made a point to leave his mark in the book that insisted in stealing his mother's attention - page 265 was reconstructed with adhesive tape and had the following note: "Torn apart by Zé Maria on August 31st 2013". Andrea is not a thriller reader, but she surrendered to the work of Stieg Larsson, that surprised her. She thinks the texts are very well written, the characters so well built and she found interesting that the story has behind it an investigation that puts to the ground the idea that Sweden is a perfect country, immune to corruption.

3 comentários:

Torradaemeiadeleite disse...

É delicioso o pormenor da folha do livro renascida da fita adesiva,com a data e o nome do bebé artista. Consegue-se escrever a vida num e-book? Por estas e por outras é que eu acho que o livro em papel nunca se extinguirá.
Parabéns pelo seu trabalho "blogático", não se limita a falar de livros mas do pulsar que os rodeia.

A. F. disse...

Cara Torrada e Meia de Leite,

Muito obrigada! :)
Sim, eu também acho que o livro em papel não deixará de existir. Poderá tornar-se mais caro, talvez, mas persistirá, com certeza.

Majo disse...

Conheço o José Eduardo Agualusa de bebé. Era filho da diligente reitora de um magnífico liceu onde estudei, no seio da mãe Angola.
É verdade que ele vive de sonhos. Eu também...
Talvez por isso, gosto dos seus livros.