O meu lugar preferido no concelho de Portimão é aquele pedaço de terra que se estende entre a Ria de Alvor e a Praia da Restinga. Ali, tudo é desafogo: voltada para poente, posso apreciar o mar, o enorme areal dourado e o perfil de Lagos; dando costas ao Atlântico, não há torres que impeçam o olhar de pousar sobre a majestosa serra de Monchique, do sopé à Fóia. Mais recentemente, um enorme passeio pedestre, numa zona inacessível a qualquer veículo, permite longos passeios pelos recantos tranquilos da ria que, devagar, se derrama no oceano. Este lugar belíssimo é uma raridade num Barlavento algarvio onde predomina o caos urbanístico que nem o Programa Polis conseguiu disfarçar. É lá que me reconcilio com a minha cidade que, de uma forma geral e com muita pena minha, não acho bonita... O Café na Ria, poiso certo, oferece-me as caipirinhas no verão e os chás no inverno. Foi lá que fotografei o Dino, poucos dias depois do Natal.
Este jovem enfermeiro decidiu voltar a estudar e encontra-se agora no último ano do curso de Relações Internacionais. Não abandonou a enfermagem, profissão que continua a exercer, mas o fascínio pela História e pela Economia, aliado ao "gosto do conhecimento pelo conhecimento", levaram-no de novo à vida universitária. Leitor "desde miúdo, sem ter sido incentivado por ninguém em particular", o Dino tinha consigo três livros e estava a lê-los em simultâneo. "Leio meia dúzia de páginas de um livro e passo para outro. Habituei-me a ler assim, embora saiba que não é muito comum. Muita gente me pergunta como faço, mas para mim é natural", explicou. Quando o abordei a sua atenção recaía sobre "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, numa edição em inglês da Oxford World's Classics. Estava a lê-lo por curiosidade, assim como aos outros dois volumes: "As Relações Internacionais Desde 1945" e "Como Sobreviver a Uma Crise". Aparentemente, estes três títulos, lidos em simultâneo por mero acaso, nada pareciam ter em comum, mas o Dino cedo percebeu que entre todos existia um fio condutor que se revelava a cada página virada. "Hitler e muitos outros políticos foram beber às teorias de Darwin e o regime político-económico que vigora atualmente tem muito de darwiniano", considerou. E o livro da sua vida? Talvez ainda seja cedo para escolher. Mas um de que gostou "muito, muito, muito" foi "A Riqueza das Nações".
Este jovem enfermeiro decidiu voltar a estudar e encontra-se agora no último ano do curso de Relações Internacionais. Não abandonou a enfermagem, profissão que continua a exercer, mas o fascínio pela História e pela Economia, aliado ao "gosto do conhecimento pelo conhecimento", levaram-no de novo à vida universitária. Leitor "desde miúdo, sem ter sido incentivado por ninguém em particular", o Dino tinha consigo três livros e estava a lê-los em simultâneo. "Leio meia dúzia de páginas de um livro e passo para outro. Habituei-me a ler assim, embora saiba que não é muito comum. Muita gente me pergunta como faço, mas para mim é natural", explicou. Quando o abordei a sua atenção recaía sobre "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, numa edição em inglês da Oxford World's Classics. Estava a lê-lo por curiosidade, assim como aos outros dois volumes: "As Relações Internacionais Desde 1945" e "Como Sobreviver a Uma Crise". Aparentemente, estes três títulos, lidos em simultâneo por mero acaso, nada pareciam ter em comum, mas o Dino cedo percebeu que entre todos existia um fio condutor que se revelava a cada página virada. "Hitler e muitos outros políticos foram beber às teorias de Darwin e o regime político-económico que vigora atualmente tem muito de darwiniano", considerou. E o livro da sua vida? Talvez ainda seja cedo para escolher. Mas um de que gostou "muito, muito, muito" foi "A Riqueza das Nações".
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My favourite place at Portimão county is that
piece of land stretching between
Ria de Alvor and Restinga beach. There, everything is clear: facing west, I can
enjoy the sea, the huge golden sand and the Lagos outline; turning my back to the Atlantic
ocean, there are no towers to prevent the eyes from falling over the Monchique
mountain, from the foot to Fóia. Recently, a big pedestrian walk, in an area inaccessible to any vehicle, allows
long walks through the quiet corners of the Ria that slowly flows into the
ocean. This beautiful place is a rarity in the Algarve where urbanistic chaos prevails, a chaos that not even the
Polis Program could disguise.
It's there that I make peace with my city that, generally speaking and to my
regret I don't find pretty... The Café na Ria, my usual place, offers me
Caipirinhas at Summer time and teas in the Winter. It was there that I took
Dino's picture, a few days after Christmas.
This young nurse
decided to study again and is now on the last year of the International
Relations course. He didn't gave up on nursing, a job that he continues to
practice, but the fascination with History and Economy, combined with the
"taste of knowledge for knowledge", lead him again to college. Reader
"since he was a kid, without the incentive of anyone in particular",
Dino had with him three books and he was reading them all at the sane time.
"I read half a dozen pages of a book and I pick up another. I got used to
reading like this, although I know it is not very common. Many people ask me
how I do it but it is natural to me", he explained. When
I approached him his attention was over "The Origin of Species", by
Charles Darwin, an English edition of Oxford World's Classics. He was reading it out of curiosity, like the
two other volumes: "As Relações Internacionais Desde 1945"
e "Como Sobreviver a Uma Crise". Apparently, these three titles,
read simultaneously by accident, seemed to have nothing in common, but
soon Dino realized that among them there was a conducting wire revealing at every
page he turned. "Hitler and
many other politicians got ideas from the theories of Darwin and the actual
economic and politic regime has a lot of Darwinian",
he considered. What about the book of his life? Maybe it is too
early to choose. But one he liked "very very very much" was “Wealth and Poverty of Nations”.
Translated by Marisa Silva
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