domingo, 22 de junho de 2014

Banguecoque — O meu Nirvana



Fui visitar Wat Pho, o templo mais antigo da capital da Tailândia, e não estava preparada para o que ali encontrei. Ainda bem. Sem saber ao que ia, sem ter visto antes qualquer imagem do local, a experiência foi avassaladora e tenho ainda hoje, passados quase dois meses, dificuldade em encontrar as palavras certas para descrever o que senti perante tanta beleza. Foi mágico... Chorei e ri, sem vergonha, na frente de toda a gente. Percorri com a ponta dos dedos o minucioso trabalho de cerâmica, vidrilho, madre pérola e folha de ouro que cobre a maior parte do exterior dos pagodes que se erguem no recinto. Segui atentamente as histórias contadas pelas figuras pintadas nos metros e metros de murais. Fui hipnotizada pela repetição exaustiva de padrões simples pintados em cores quentes nos tetos altos. Fiquei perplexa perante a elegância do Buda reclinado, apesar das suas dimensões colossais — 15 metros de altura e 43 metros de comprimento — e deliciei-me com o seu sorriso doce, sereno, um dos poucos que vi até hoje maiores que o meu: 5 metros de sorriso! Fechei os olhos e deixei que a poderosa energia que ali se concentrava tomasse conta de mim. Numa tentativa de evitar o caminho de um grupo de visitantes apressados, fiz um desvio súbito no meu trajeto, encontrei-me num recanto mais isolado e dei de caras com um monge a ler. Gostava de ter uma história maravilhosa para vos contar acerca desta fotografia. Uma história que contivesse uma revelação ou um ensinamento. Algo assim profundo. Mas não tenho. Contudo, este encontro breve, feito de parcas palavras e muitos sorrisos, fechou com chave de ouro o dia mais emocionante da minha curta passagem por Banguecoque. O monge, que não falava uma palavra de inglês, percebeu a minha intenção: tirar uma fotografia. Mas duvido que tenha percebido que o meu interesse era fotografá-lo a ler. Não percebi o seu nome. Não me soube explicar o que lia, nem porquê. Perguntei-lhe se teria um email para enviar-lhe a fotografia. Disse que sim. Passei-lhe o meu bloco de notas e a caneta para que o escrevesse, mas o que me deu foi a morada e o número de telefone de um templo numa província distante. Só o percebi mais tarde, quando a rececionista do hotel me traduziu os apontamentos. Foi, portanto, um encontro feito de alguns mal entendidos, mas ainda assim um encontro cheio de boas intenções. Foi o meu Nirvana.

Mais fotos deste encontro aqui.

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