segunda-feira, 9 de junho de 2014

Kuala Lumpur — Livreiros: todos diferentes, todos iguais


Não sei do que gosto mais quando viajo: viver a experiência do choque cultural ou espantar-me com as semelhanças. Uma pessoa vai até ao outro lado do mundo, visita um país que nada tem a ver com o seu, perde quase todos os seus pontos de referência, mas encontra uma colega de profissão com quem tem imenso em comum. Estar a conversar com alguém de outra cultura pela primeira vez e dar por si a dizer "Pois é, é mesmo isso!" é tão emocionante quanto ficar alojada na casa de uma família Hmong, tribo do norte do Vietname, que está no extremo oposto do meu estilo de vida. Encontrei a Abbie no shopping das Torres Petronas, onde também eu tinha ido almoçar. Alegria pura foi o que senti quando me disse que era livreira na Books Kinokuniya, uma rede japonesa de livrarias. A partir desse primeiro ponto em comum coincidimos em muitas outras coisas. Tal como eu, a Abbie lê imenso e ri-se da ironia que é deixar parte considerável do seu salário no sítio onde trabalha. Tal como eu, a Abbie considera os livros caros, só que na Malásia isso não se deve à pequenez do mercado, mas sim ao facto de quase não haver edição nacional e trabalharem sobretudo com edições importadas dos EUA e do Reino Unido. Tal como eu, a Abbie tem a sorte de poder ler os livros que são oferecidos pelos editores, mas com uma diferença: quando me oferecem livros, recebo a edição que vai para o mercado, enquanto ela recebe uma "review copy", que é uma edição mais barata produzida para promover os livros junto de quem os vai vender. E tal como eu, a Abbie considera fundamental sentir-se agarrada pela primeira frase de um livro. Fotografei-a quando lia "The Killer Next Door", de Alex Marwood, um thriller psicológico que, na sua opinião, explora muito bem os meandros da mente humana. "É maravilhoso encontrar um bom livro!", disse-me. "É uma fonte de felicidade". E eu, tal como ela, sinto extamente o mesmo.

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