segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O resgate de Nora Roberts


Se há coisa que não consigo fazer é deitar livros fora. Prefiro dá-los, oferecê-los, mas pô-los no lixo é-me inconcebível. E a ideia de que possam ser "abatidos" ou "guilhotinados" (como se diz na gíria editorial e como se faz, de facto, aos monos que são tão monos que até esquecidos num armazém dão prejuízo) dói-me fundo na alma. Trago em mim esta convicção de que um livro, por muito mau que seja e até independentemente da sua mensagem, é um objeto quase sagrado. Talvez o meu objeto preferido, no extremo oposto a qualquer tipo de arma e aos guarda-chuvas, que detesto... E é por isso que arrasto comigo, a cada mudança de casa, dezenas de volumes que muito provavelmente nunca hei de ler — comprei-os, mas não me agradaram; ofereceram-mos e ficaram na prateleira; salvei-os de algum lugar onde estavam ao abandono —, mas que insisto em guardar com carinho.

A Ana é uma leitora assídua e passa as horas de almoço na companhia de livros. Encontrei-a no jardim da Cordoaria a ler "Lua de Sangue", um romance de Nora Roberts. Na semana anterior, tinha lido "Porto de Abrigo", um outro livro da mesma autora e contou-me que em casa tinha um terceiro livro de Nora à sua espera. Estes romances tinham sido oferecidos à instituição para crianças onde a mãe da Ana trabalha e, por não se adequarem aos mais novos, tinham o lixo como destino. Convencida de que a filha os apreciaria, resgatou-os a tempo e foi assim que a Ana pôde descobrir uma autora de quem nunca ouvira falar e que a surpreendeu muitíssimo. Uma história com final feliz que se encaixa perfeitamente no espírito do Acordo Fotográfico!

1 comentário:

Rachelet disse...

Partilho da tua opinião. Embora não passe uma semana sem devorar um livro, tenho de dizer constantemente aos meus amigos para não me oferecerem livros (ainda para mais na época que se avizinha, já se sabe que lá vem sempre um), o que, para eles que sabem que sou e vivo das Letras, parece paradoxal.

O facto é que, precisamente porque leio muito, elevei muito alta a fasquia dos livros que quero ter em casa. Não obstante, sou incapaz de deitar um livro fora, por «piorzinho» que seja, porque há-de haver sempre alguém que poderá gostar.
(E depois, convenhamos, num país com hábitos de leitura cada vez mais deficitários, por mais manhoso que seja um livro, que leiam de todo é sempre melhor do que não lerem!)

Bom, tudo isto como (longo!) preâmbulo a uma questão: vejo-me frequentemente a braços com livros que não quero para dar e nunca sei onde os doar. Sugestões?

P.S.: Já me aconteceu contactar algumas instituições para lhes oferecer os livros e simplesmente não responderem ou depois não darem seguimento a manifestações de interesse. Por isso, acabo por abandonar cada livro aqui e acolá, na esperança que tenham melhor sorte junto de quem os achar.