terça-feira, 6 de agosto de 2013

Catarina, a persistente
Persistent Catarina


Não são raras as vezes que em visitas a museus, cá dentro ou lá fora, vejo vigilantes a ler. No entanto, julgo que ainda não me tinha deparado com uma situação destas desde que o Acordo Fotográfico existe. Embora esteja convencida que ler no exercício destas funções não seja motivo de repreensão — sobretudo no dia de um grande jogo de futebol em que o museu estava vazio —, a pedido da Catarina não vos vou fornecer grandes detalhes sobre o local onde nos conhecemos. Posso dizer-vos, ainda assim, que hesitei muito em pedir esta fotografia, porque a grande sala onde ela se encontrava exibia uma única peça sobre a qual se concentrava a pouca iluminação existente, o que dificultou bastante a captura desta imagem. 

Quando expliquei à Catarina no que consistia o Acordo Fotográfico e lhe perguntei se lia com frequência, a resposta foi desconcertante: "É interessante fazer-me essa pergunta porque eu detesto ler." Perante esta afirmação inesperada ri-me, embora sem qualquer maldade, expliquei-lhe que nunca antes alguém me tinha dado uma resposta semelhante e que a nossa conversa ia resultar num post muito interessante. 

Contou-me a Catarina que para si ler é uma luta e está convencida de que isso se deve ao facto de nunca ter sido incentivada a fazê-lo, embora a sua mãe tenha sido em tempos uma grande leitora. Assume sem complexos que desiste dos livros e que em toda a sua vida talvez tenha lido apenas três até ao fim. Às vezes, decidida a fazer mais um esforço, entra na FNAC e investe horas na escolha de um livro. Depois chega a casa, lê umas páginas e coloca-o de parte. Mas a Catarina persiste e neste seu combate em prol do gosto pela leitura aceitou a ajuda dos colegas de trabalho que gostam muito de ler e lhe receitaram policiais como forma de viciação garantida. Naquela manhã, antes de ir para o museu, foi à biblioteca da mãe e escolheu "A Hesitação de Maigret", um policial de George Simenon que diz ler-se bem, que ajudava a passar o tempo e que, muito provavelmente,  levaria até ao fim. 


***

When I visit museums in Portugal or abroad I often see guards reading. However, I think I haven't witnessed a situation like this since Acordo Fotográfico exists. Although I'm convinced that reading while doing this type of work isn't a motive to be reprimanded for — particularly in a day of major football mach, when the museum was empty —, by request of Catarina I won't give you many details about the place where we met. Still, I can say that I hesitated a lot before asking to take this picture, because the room where she was showed one single piece and the few present lighting was focused on it, which made very difficult the shoot of this photo.

When I explained to Catarina what is Acordo Fotográfico and asked her if she is a frequent reader, the answer was overwhelming: "It is interesting that you ask me that because I hate reading". Facing this unexpected statement I laughed with no malice, explained to her that no one before had given a similar answer and told her that this conversation would result in a very interesting post.

Catarina told me that to her reading is a struggle and she is convinced that is due to the lack of encouragement, although her mother was once a great reader. She assumes without complex that she quits of books and that maybe she only read three of them until the end. Sometimes, determined to try once more, she goes to FNAC and spends hours trying to choose a book. Then she goes home, reads a few pages and sets it aside. But Catarina persists and in this fight for having pleasure in reading she accepted the help of her co-workers that love to read and who recommended to her a detective novel as a way of guaranteed addiction. In that morning, before she went to the museum, she went to her mom's library and chose "Maigret Hesitates", a detective novel of George Simenon that, she said, is easy-reading, helps spend time and that she would probably read until the end.
Translated by Marisa Silva

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