"Temos de ser um pouco militantes nisto de nos encontrarmos de viva voz e não nos remetermos apenas ao teclado". Foi desta forma que Nuno Camarneiro iniciou a sua intervenção na primeira tertúlia realizada pelo recém-inaugurado Clube Literário de Gaia, que organiza os seus encontros na livraria Os Velhotes (pelo menos enquanto lá coubermos todos). Com apenas 35 anos, Nuno Camarneiro foi o vencedor do Prémio LeYa 2012 com o livro "Debaixo de Algum Céu", o seu segundo romance. Formado em engenharia física e doutorado em Ciências Aplicadas ao Património Cultural, este jovem autor, que diz sofrer "do pecado da curiosidade", já experimentou muitas outras coisas na vida: a música, a dança e o teatro, por exemplo, fazem parte do seu currículo eclético. Admite que a vontade de experimentar a literatura lhe aconteceu desde cedo, talvez por sempre ter lido muito, mas só quando foi para a Suíça trabalhar para o CERN, só quando se viu desenraizado é que o seu primeiro instinto foi começar a escrever. Foi então que percebeu a escrita como um espaço de criação e de diálogo consigo próprio. E essa função da escrita foi crescendo até resultar na publicação do seu primeiro romance, "No Meu Peito Não Cabem Pássaros". "O primeiro livro é muito introspetivo. As perguntas são ainda muito internas: quem sou eu? O que me espera? Socorri-me de Pessoa e de Borges para esse exercício". Já o segundo livro, o que lhe valeu o Prémio LeYa, considera-o "um olhar voltado para fora, embora contido num prédio. É um exercício de reflexão sobre os problemas e inquietações dos personagens. É um livro sobre pessoas normais, aquilo que mais me interessa fazer, porque talvez a função da literatura seja fazer dos dias banais outra coisa", disse. E eu acrescento: se ainda não leram "Debaixo de Algum Céu" deviam fazê-lo.
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“We
have to be a bit militant in meeting each other face to face and not submit
ourselves only to the keyboard.” It was like this that Nuno Camarneiro started
his intervention on the first salon promoted by the newly opened Literary Book Club
of Gaia, whose meetings are held on the bookstore Os Velhotes (at least until
we all can fit in there). With only 35 years, Nuno Camarneiro was the
winner of the LeYa’s 2012 Award with the book "Debaixo de Algum Céu",
his second novel. Graduated in Physics Engineering and a PHD in
Sciences Applied to Cultural Heritage, this young author, who
claims to suffer “from the sin of curiosity”, already tried many other
things in life: music, dance and theater, for instance, are a part of his
eclectic curriculum. He admits that the will to try
literature happened very early in life, maybe because he always read a lot, but
only when he went to work for CERN, in Switzerland, only when he found
himself uprooted, he started to write as his first instinct. It was then he
realized that writing is a place of creation and dialogue with himself. And
that development in writing grew until it became the publication of his first
novel, "No Meu Peito Não Cabem Pássaros".
“The first book is very introspective. The questions are still
very directed to myself: who am I? What is reserved for me? I took advantage of
Pessoa and Borges for that exercise”. But he thinks the second book, the
one who provided the LeYa Award, is “a glare turned to the outside, although
caught in a building. It’s a reflective exercise about the problems
and concerns of the characters. It is a book about regular people, the thing
that interests me the most, maybe because the job of literature is to transform
the common things into something else”, he stated. And I add: if you still
haven’t read "Debaixo de Algum Céu"
you should.
Translated by Marisa Silva
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