"Estou a ler "The Magicians Land", de Lev Grossman, que é crítico de
livros para a Time Magazine. Este é o terceiro e último volume da série "The Magicians", uma trilogia de fantasia. Estou quase a acabá-lo. Por acaso,
ultimamente tenho vindo a recuperar esse hábito de ler fantasia, muito na onda
daquilo a que as pessoas mais entendidas no género — e que fazem essas
categorizações — chamam de fantasia épica, como Tolkien ou autores mais
contemporâneos, como o que escreveu "A Game of Thrones" ("A Guerra dos Tronos"). Gosto muito de ficção científica e também gosto muito de não
ficção, geralmente na vertente do jornalismo de investigação criminal, que é
uma literatura que não se faz tanto em Portugal. É mais anglo-saxónica, como é o
caso de "In Cold Blood" ("A Sangue Frio"). Não sou homem de um livro só e é-me
muito difícil conseguir pôr alguma coisa nesses termos tão definitivos: é o
livro da minha vida, é o filme da minha vida, é o álbum da minha vida...
Compreendo que haja pessoas que o consigam fazer, mas eu não consigo. Nós somos
um bocado um conjunto das coisas que lemos e se calhar há alturas da nossa vida
em que um livro nos marca mais e há alturas em que estamos mais susceptíveis a
outro tipo de literatura. Por exemplo, o livro mais importante da minha vida no
último ano chama-se “Snow Leopard”, de Peter Matthiessen (vencedor por três
vezes do National Book Award), um naturalista inglês que faleceu este ano. O
livro é sobre uma expedição que ele fez aos Himalaias em busca do leopardo das neves.
É uma obra como hoje em dia já não é muito comum fazer-se, um relato muito
interessante de uma viagem que não foi só física, foi também
uma viagem muito mental. O autor estava num período difícil da sua vida — a
mulher tinha acabado de falecer de cancro — e então estava numa fase mais espiritual. Curiosamente, Matthiessen era budista e a expedição em que
participou pretendia encontrar o leopardo das neves, que ainda hoje é um animal
em vias de extinção, muito difícil de encontrar e que, pelos vistos, também tem
um significado particular na mitologia budista. Portanto, houve ali
uma série de círculos que se ligavam de forma ténue mas muito definitiva,
digamos. E esse conjunto todo, também para mim, embora noutro contexto, fez
muito sentido. Recomendo! Sobretudo para perceber-se que muitas vezes as
viagens que temos de fazer interiormente têm um reflexo exterior e que às vezes temos mesmo de percorrer fisicamente
um caminho para chegar onde queremos mentalmente. E os livros ajudam nesse
processo. Acho que a importância da leitura não deve ser subestimada. Isto se
calhar também é um bocadinho síndrome de velho do Restelo, apesar de eu não ser
muito velho, mas acho que hoje em dia cada vez mais se perdem hábitos de
leitura, perde-se a importância que se deve dar ao livro e à leitura. Acho que
as pessoas devem ler, devem ler muito e devem ler tudo o que lhes apetece
porque um dia haverão de encontrar algo que lhes diga respeito e que seja importante
para elas. E para isso têm de ler. A leitura também é uma experiência de vida.
Nós, quando lemos, experienciamos algo que outra pessoa viveu. Quando lemos um livro de fantasia épica ou um relato da Guerra
do Peloponeso, vamos a lugares onde nunca poderíamos ir, como a Grécia antiga ou
a Terra Média, e isso permite-nos ver as coisas de um ponto de vista
completamente diferente, o que nos
enriquece. Quanto mais lemos mais ricos somos e melhor estamos preparados para
lidar com o mundo, com diferentes
experiências, com diferentes pessoas e acho que no fundo também nos
tornamos um bocadinho melhores enquanto seres humanos".
Assim falou Nuno, que lia enquanto descia a Rua da Restauração, no Porto.
1 comentário:
Conheço bem essa rua. :)
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