sábado, 22 de novembro de 2014

Nuno, o leitor caminhante



"Estou a ler "The Magicians Land", de Lev Grossman, que é crítico de livros para a Time Magazine. Este é o terceiro e último volume da série "The Magicians", uma trilogia de fantasia. Estou quase a acabá-lo. Por acaso, ultimamente tenho vindo a recuperar esse hábito de ler fantasia, muito na onda daquilo a que as pessoas mais entendidas no género — e que fazem essas categorizações — chamam de fantasia épica, como Tolkien ou autores mais contemporâneos, como o que escreveu "A Game of Thrones" ("A Guerra dos Tronos"). Gosto muito de ficção científica e também gosto muito de não ficção, geralmente na vertente do jornalismo de investigação criminal, que é uma literatura que não se faz tanto em Portugal. É mais anglo-saxónica, como é o caso de "In Cold Blood" ("A Sangue Frio"). Não sou homem de um livro só e é-me muito difícil conseguir pôr alguma coisa nesses termos tão definitivos: é o livro da minha vida, é o filme da minha vida, é o álbum da minha vida... Compreendo que haja pessoas que o consigam fazer, mas eu não consigo. Nós somos um bocado um conjunto das coisas que lemos e se calhar há alturas da nossa vida em que um livro nos marca mais e há alturas em que estamos mais susceptíveis a outro tipo de literatura. Por exemplo, o livro mais importante da minha vida no último ano chama-se “Snow Leopard”, de Peter Matthiessen (vencedor por três vezes do National Book Award), um naturalista inglês que faleceu este ano. O livro é sobre uma expedição que ele fez aos Himalaias em busca do leopardo das neves. É uma obra como hoje em dia já não é muito comum fazer-se, um relato muito interessante de uma viagem que não foi só física, foi também uma viagem muito mental. O autor estava num período difícil da sua vida — a mulher tinha acabado de falecer de cancro — e então estava numa fase mais espiritual. Curiosamente, Matthiessen era budista e a expedição em que participou pretendia encontrar o leopardo das neves, que ainda hoje é um animal em vias de extinção, muito difícil de encontrar e que, pelos vistos, também tem um significado particular na mitologia budista. Portanto, houve ali uma série de círculos que se ligavam de forma ténue mas muito definitiva, digamos. E esse conjunto todo, também para mim, embora noutro contexto, fez muito sentido. Recomendo! Sobretudo para perceber-se que muitas vezes as viagens que temos de fazer interiormente têm um reflexo exterior e que às vezes temos mesmo de percorrer fisicamente um caminho para chegar onde queremos mentalmente. E os livros ajudam nesse processo. Acho que a importância da leitura não deve ser subestimada. Isto se calhar também é um bocadinho síndrome de velho do Restelo, apesar de eu não ser muito velho, mas acho que hoje em dia cada vez mais se perdem hábitos de leitura, perde-se a importância que se deve dar ao livro e à leitura. Acho que as pessoas devem ler, devem ler muito e devem ler tudo o que lhes apetece porque um dia haverão de encontrar algo que lhes diga respeito e que seja importante para elas. E para isso têm de ler. A leitura também é uma experiência de vida. Nós, quando lemos, experienciamos algo que outra pessoa viveu. Quando lemos um livro de fantasia épica ou um relato da Guerra do Peloponeso, vamos a lugares onde nunca poderíamos ir, como a Grécia antiga ou a Terra Média, e isso permite-nos ver as coisas de um ponto de vista completamente diferente, o que  nos enriquece. Quanto mais lemos mais ricos somos e melhor estamos preparados para lidar com o mundo, com diferentes  experiências, com diferentes pessoas e acho que no fundo também nos tornamos um bocadinho melhores enquanto seres humanos". 

Assim falou Nuno, que lia enquanto descia a Rua da Restauração, no Porto.

1 comentário:

Vespinha disse...

Conheço bem essa rua. :)