Se há coisa de que gosto muito é fazer de conta que sou turista na minha cidade (já posso dizer que é minha, não posso? Ao fim e ao cabo, são treze anos. É a cidade onde vivi mais tempo em toda a minha vida!), e é com algum espanto que constato que no Porto há sempre alguma coisa para fazer pela primeira vez desde que se tenha espírito para partir à descoberta e fugir dos lugares rotineiros. Espírito de turista, portanto...
Num destes domingos soalheiros andei a vaguear por aí de câmara a tiracolo, na companhia da minha amiga C. Foi o dia em que fui pela primeira vez à Feira dos Pássaros, de manhã cedo, subi pela primeira vez à Serra do Pilar, andei pela primeira vez no Funicular dos Guindais e visitei pela primeira vez exposições patentes no Centro Português de Fotografia. Isto para não falar na deliciosa estreia no Munchie ao almoço, onde todos os hambúrgueres têm nome de pecado mortal, e na descoberta dos gelados caseiros Sou Sweet ao lanche. E para terminar o dia em beleza, ainda assisti por mero acaso à procissão do Sr. da Boa Fortuna, na Freguesia da Vitória, também esse um momento inédito.
A minha caminhada levou-me, também, à Rua das Galerias de Paris onde acontecia o habitual mercado urbano, um tipo de evento muito em voga por estas bandas. Foi aí, junto à bancada onde tinha expostas peças de bijutaria feitas por si, que encontrei a Ariana a ler "Balada do Café Triste", um romance de Carson Mccullers que lhe foi recomendado e que, embora não tivesse passado das primeiras páginas, já lhe parecia muito interessante. Por se dizer leitora habitual e afirmar que lê de tudo um pouco pedi-lhe que arriscasse apontar o livro da sua vida. Respondeu-me que há uns anos não hesitaria em escolher "A Campânula de Vidro", de Sylvia Plath, mas que se o relesse hoje talvez já não o fosse...
If there is one thing that I like to do
a lot is to pretend that I am a tourist at my own city (I can call it my own
can't I? It has been already thirteen years. It's the city where I lived in for
most of my life)!, and it is a bit amazed that I see there is always something
to do for the first time in Porto as long as you have the spirit to find
things and get away from the usual places. So, a tourist spirit...
***
In one of these sunny sundays I wandered
around with the camera on the shoulder, with my friend C. It was the day I went
for the first time to the Birds Market, I climbed for the first time to Serra
do Pilar (an observatory in Gaia), I travelled for the first time on Guindais Funicular
and I visited for the first time the current exhibitions at Centro Português de
Fotografia. To join all of this there was the delicious debut at Munchie
over lunch, where all the burgers have been named after a mortal sin, and the
discovery of the home made Sou Sweet (I’m Sweet) ice cream for snack. To end
the day in beauty, I saw by accident the procession of Sr. da Boa Fortuna, at
Vitória parish, also an unprecedented moment.
My walk also lead me to Galerias de
Paris street where the usual urban market was taking place, a kind of event
much in vogue in these parts. It was there, next to the stand where she
exhibited her hand made jewelry, that I found Ariana reading “The Ballad of Sad Café”, a recommended Carson Mccullers novel and, although she was still at the
first pages, she found the book very interesting. Because she says she is a
usual reader and she claims she reads a bit of everything I asked her to
take the risk and choose the book of her life. She answered that a few years
ago she wouldn't hesitate on choosing “The Bell Jar”, by Sylvia Plath, but if
she would read it again today maybe it wasn't anymore...
Translated by Marisa Silva
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